O Árabe

Idéias, sentimentos, emoções. Oásis que nos ajudam a atravessar os trechos desérticos da vida...

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

OS VOSSOS INTERESSES



Cada um tem os seus próprios interesses.
Esta é a verdade, por mais que a queirais negar. Ninguém defende senão a si mesmo. E é por isto que não cumpris as vossas promessas; nem agis conforme as vossas palavras.
 
Por isto, os vossos casos de amor  duram apenas enquanto duram as vossas paixões; porque a felicidade da pessoa por quem estais apaixonados faz a vossa felicidade.

Porém, tão logo morre a paixão, eis que se esvai o altruísmo. E voltais a exigir os vossos “direitos”; renasce o egoísmo natural, que desde o berço vos acompanha.
E que, em verdade, não deixou de existir por um único instante. Como o camaleão, que apenas assume a aparência da planta onde está, para preservar a sua própria existência.

Assim é; e não vos deveis culpar por isto. Pois ao viajante perdido no deserto, não se pode acusar por buscar encher o seu cantil; que representa a própria sobrevivência no futuro.
Sereis culpados, apenas, quando, no afã de encher o vosso cantil, desprezardes todos os cantis que para o oásis se estendem; e aos outros aceitardes condenar à sede inclemente.

Não existe crime em buscar a própria água; e sim em conspurcar o poço, para que outros não possam dele usufruir. Pois a nascente é a mesma e a todos será capaz de atender.
Defendei a vossa água. Lembrai-vos, porém, que todos bebem da mesma fonte e buscam saciar a mesma sede; e a ninguém cabe um direito maior do que aos outros assiste.

Buscai a vossa felicidade. Mas tende como certo que não a encontrareis na infelicidade alheia. A parasita, ainda que cresça, acaba por morrer, após sufocar a planta onde nasceu.
Não vos julgueis superiores aos vossos irmãos. Pois, eu vos tenho dito, as folhas que brotam na copa das árvores, não são diferentes das que nascem nos galhos mais baixos.

Guardai-vos de negar o vosso egoísmo. Pois o homem que sobrevive não é aquele que nega o veneno em suas veias, mas o que o admite e procura encontrar a sua cura.
O egoísmo está em vós. E não o deveis combater, mas usá-lo em vosso favor. Porque, se assim fizerdes, não sereis felizes enquanto não forem felizes aqueles que vos cercam.

Este é o segredo da harmonia. Pois está escrito que o Pastor não será feliz, até que a última ovelha retorne ao aprisco; e cada homem é uma ovelha que busca chegar ao redil.
O Pastor é o Coração do Universo.

Música:

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

O TEMPO E AS LEMBRANÇAS



Dia virá, em que nada seremos senão lembranças.
Não mais caminharemos sobre a terra; não sonharemos os nossos sonhos e nem sofreremos as nossas angústias. Nada restará de nós, além de pegadas no caminho.

Assim é. Pois o viajante, ao final da jornada, despe as suas vestes empoeiradas; entrega-se ao banho reconfortante e desfruta do merecido repouso, antes de uma nova caminhada.
Acostumai-vos a esta ideia. Quanto antes o fizerdes, melhor será para vós; começareis a cultivar o desapego aos bens materiais, que não podereis levar na Grande Viagem.

Nada tendes, senão o que sois; esta é a verdade. E, se assim é, deveis estar atentos, para que a vossa jornada não tenha como objetivo as conquistas fúteis, mas o aprendizado.
Pois nada podereis segurar em vossas mãos, ou carregar em vossos bolsos. Nada levareis, senão as emoções de vossos corações e os pensamentos de vossas mentes.

Acostumai-vos a esta ideia. E descobrireis quão inútil e insensato é sofrer por coisas efêmeras, se aqui as deixareis todas, enquanto de mãos vazias seguireis pela Eternidade.
Sede cuidadosos e seletivos, com o que colocais em vossa bagagem. De nada vos serve acumular o que não podeis transportar, ou plantar o que não vos será possível colher.

Buscai desenvolver em vós a tolerância e não a ira; a paz e não a agressividade; a paciência e não a ansiedade; a solidariedade e não a indiferença; o amor e não o ódio.
Abrigai em vossos corações o perdão e não o ressentimento; a fé e não a descrença; a confiança e não o medo; a humildade e não o orgulho; a lealdade e não a falsidade.

Fazei leves os vossos passos, produtivos os vossos silêncios e proveitosas as vossas palavras; edificai, ao invés de destruir; estendei a vossa mão e amparai aqueles que caem.
Pois o Conhecimento é o tesouro que nada ou ninguém, nem a morte, vos poderá tomar. E outra forma não existe de conquistá-lo, senão amealhando moeda a moeda o aprendizado.

Guardai-vos de priorizar os bens materiais, em um mundo onde só existe o agora. O tempo passa e nem toda a fortuna do mundo vos poderá comprar mais um pouco de tempo.
Virá um tempo em que nem mesmo as nossas pegadas persistirão no caminho; é preciso que assim seja, para que possamos caminhar com novos pés, por novos caminhos. 

Dia virá, em que nada seremos senão lembranças.

Procuremos, pois, ser as melhores lembranças. 

 Música:

sexta-feira, 13 de novembro de 2015

AS BOAS LEMBRANÇAS


Guardai os vossos momentos felizes.

Para que vos reconfortem, nos instantes de tristeza. Assim como guardais as moedas que vos sobram, para que não vos alcancem e surpreendam a necessidade e a pobreza.

Pois a vida é feita de altos e baixos. E são as boas lembranças que renovarão as vossas forças e a vossa fé, se algum dia vos parecer que de nada adianta seguir em frente.
Um dia, o inverno baterá às portas do vosso coração. E, então, as boas lembranças serão as achas de lenha de onde surgirão as chamas benditas que aquecerão a vossa alma.

Não vos enganeis: sorrisos e lágrimas fazem parte da jornada e caminham em vossos caminhos. Guardai, pois, os vossos sorrisos, para que possais suportar as vossas lágrimas.
Não é sábio o homem que subestima a importância das boas lembranças. Contudo, como tantas outras coisas que vos cercam, só a percebereis quando delas necessitardes.

Pois é apenas quando o viajante se perde na escuridão da noite do deserto, que descobre o valor das estrelas que brilham sobre sua cabeça e indicam a rota a ser seguida.
Uma lembrança feliz é como a gota de orvalho que jaz esquecida e humilde sobre a folha, até que na estiagem desliza e pinga sobre o solo, aliviando a sede da planta ressequida.

Uma lembrança feliz é como o sopro amigo da brisa nos cabelos, que em pleno sol do meio-dia ameniza o calor escaldante e faz lembrar que em breve voltará o frescor da noite.
Muitas vezes, uma lembrança feliz é o que necessitais para construir a ponte salvadora e cruzar o abismo, em cujo fundo se agitam os vossos temores e o vosso desespero.

Porque a solidão se encolhe, ante a lembrança de um momento de amor; e a sensação de derrota não persiste, quando a confrontais com as lembranças de vossas vitórias.
Recordai as alegrias e não vos perdereis na tristeza; valorizai os vossos ganhos e não vos desanimarão as vossas perdas; acreditai no futuro e não vos entregareis no presente.
 
Guardai as boas lembranças. E não as trateis como o avarento trata as suas moedas, que esconde da vista de todos; nem como o insensato, que as esbanja sem sentido.  

Plantai, antes, em vosso coração as vossas boas lembranças; como o semeador que ao redor espalha as boas sementes, sabendo que assim terá a colheita mais farta.

Pois a vossa seara é a Eternidade.

Música:

sexta-feira, 6 de novembro de 2015

A CANÇÃO DA DELICADEZA


 
Deixai que eu vos fale da delicadeza.
De nuvens brancas como fiapos de algodão, que flutuam no céu azul e, ao sopro inconstante do vento gentil da manhã, assumem as formas dos vossos sonhos e desejos.

Dos elaborados desenhos e das cores encantadoras com que o pincel da natureza, pela mão do Universo, adornou as asas translúcidas das borboletas que volteiam no ar.

Do infinito carinho com que a mãe enlevada aconchega ao seio generoso o filho amado, ou o coloca no berço e para ele canta as mais lindas canções, até que o veja adormecido.
Do botão de rosa que se entreabre ao amanhecer e, ainda molhado pelo orvalho da noite, permite que aos poucos vos seja dado desfrutar da beleza da flor e do seu perfume.

De ondas calmas e acariciantes, que entre espumas beijam suavemente a areia clara das praias, onde a brisa assovia entre os coqueiros melodias que embalam o vosso repouso.
Do sorriso agradecido do idoso que se apoia confiante no braço que lhe oferece o jovem, recordando o tempo em que os seus braços o protegiam durante os primeiros passos.

Das estrelas que cintilam no céu noturno, como diamantes em almofada de veludo negro, iluminando os sonhos dos enamorados e indicando o caminho ao viajante no deserto.
Do riacho cristalino, que corre tranquilo entre pedras agrestes, murmurando a canção do Universo e fazendo brotar o verde da Vida na paisagem antes árida e ressequida.

Da ternura que se derrama dos olhos de quem ama, da carícia leve e confortadora de mãos que se encontram e entrelaçam, do toque suave dos lábios na face amada.
Do pássaro que canta ao nascer do sol, do toque plangente do sino que anuncia o crepúsculo na pequenina cidade perdida entre as serras, do pólen que viaja entre as flores.

Das palavras de amor murmuradas na penumbra acolhedora da noite, das juras trocadas entre adolescentes apaixonados, da cumplicidade silenciosa entre o casal envelhecido.
Deixai que eu vos fale da delicadeza.

Porque ela desperta o melhor que existe em vós, preenchendo os vossos corações e fazendo aflorar a consciência de que sempre vos acompanha o Coração do Universo.
Que fala ao vosso verdadeiro Eu.

Música:

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